Um dia depois de fazer essa conta no Substack, ainda aprendendo a mexer no app, vi umas pessoas falando sobre a nova Trend do Instagram — a do Studio Ghibli feitos por IA.
Eu tinha acabado de mudar a foto aqui do meu perfil e postei a mesma foto lá no meu Instagram (@revisorasamira). Depois disso, choveu de gente falando o quanto odiou essa Trend, que não estão dando crédito ao artista, que a IA vai roubar nossos dados, que a IA isso, a IA aquilo, e IA pra cá, IA pra lá, e tome IA...
Acabei de pesquisar sobre essa Trend e vi uma porrada de criadores de conteúdos se beneficiando, mostrando seus trabalhos e até ensinando a como usar o ChatGPT para transformar as fotos em desenhos, de forma rápida e prática.
E não tem só conteúdos sobre o Studio Ghibli, não, viu. Há da Disney, dos Simpsons, Manycraft e outros desenhos e jogos que eu desconheço.
Quer saber a minha opinião?
Eu também odiava.
Não aguentava mais abrir o Instagram — semana passada abri o Facebook — e tava lá um monte de gente publicando suas fotos convertidas em desenhos.
Então, como tava sem ideia do que colocar na foto desse meu perfil aqui, acabei aderindo a essa ideia da tal Trend.
Eu sequer sabia por onde começar. Corri no YouTube e em menos de três minutos já tava baixando a foto/arte na minha galeria.
Trend é sobre vendas e marketing
Pontos importantes que aprendi estudando um pouco de vendas, neurovendas e marketing digital foi:
ATENÇÃO. Se você consegue chamar atenção das pessoas, em um mundo corrido e concorrido, você consegue vender e se vender (que dá no mesmo).
COMUNIDADE (senso de pertencimento). O ser humano anseia por pertencer a algum lugar, o tempo todo. Só de você está aqui me diz que você ama ler e curte escrita. Okay?
IDENTIFICAÇÃO (exclusividade). É quase o mesmo do ponto 2, só que as pessoas se sentem parte exclusiva de uma novidade e querem mostrar que são "especiais". Elas são movidas a compartilhar, atraindo mais gente "igual" para a mesma comunidade.
No final, tudo se resume a se “amostrar”, como dizemos aqui no Ceará.
O ser humano gosta de ser ouvido. E isso não é novidade.
Gostamos de boas histórias desde sempre — desde os primatas (para quem crê) até os dias de hoje. No Jardim do Éden, o Criador conversava, ao entardecer, com Sua criação: Adão.
Somos apaixonados por narrativas. Paramos tudo para ouvir uma boa história, daquelas que nos prendem do início ao fim; que despertam ânsia, desejo, medo, vergonha; que nos arrancam boas gargalhadas e nos fazem dizer: “Eu também já passei por isso!”
“Só quem sabe é quem passa”, dizem os mais vividos. E isso resume bem as Trends.
Por mais que odiemos certas situações, posturas e ações humanas coletivas, essas pessoas só estão sendo “elas mesmas”. Elas encontraram sua galera, seu grupão.
Tenho certeza de que você também tem o seu grupinho ou grupão — embora não assuma e siga por aí como um nômade ou quase eremita.
Se fuçar, você encontra alguém que gosta das mesmas comidas, dos mesmos lugares, músicas, desenhos, sabores, cores, deuses, crenças... até da descrença.
No fim das contas, você NUNCA está totalmente só. E, veja bem: você também não é tão “especial” assim só por ser diferente. (Eu também achava que era. Ledo engano.)
Somos únicos, sim. Mas dentro de um padrão. Um quebra-cabeça cheio de peças estranhas que, de algum modo, ainda se encaixam.
Acredito que a revolta do grupo dos comentários pode até ser justa. Mas o que percebi foi que há quem alimente um ódio gratuito. Talvez pela falta de conhecimento do que acabei de falar, talvez por não entender do comportamento humano — não sei.
Em sua maioria, são pessoas que sequer botam as caras. Se escondem atrás de avatares, fotos de pets e paisagens. Chuto que temem encarar a verdade ou simplesmente escolheram não se revelar.
Confesso: ler aqueles comentários mexeu comigo. Pensei até em trocar a foto do meu perfil, só pra agradar. Na verdade, por receio de ninguém ler meus textos. (É, todo escritor sente esse medo — o de falar e ninguém ouvir.)
Fiquei lembrando de dias antes, quando eu também fazia parte daquele grupo. Quando externei, com gosto, o meu abuso. Mas…
O ser humano é engraçado. E estranhamente complexo. No dia seguinte, lá estava eu, pertencendo àquilo que chamei de idiotice e bobagem. Fazendo parte de um grupo de adultos amostrados…
A cada dia, a maturidade tem me feito perceber que assim é a vida, assim somos nós: falamos mal, esbravejamos, nos afastamos de algumas pessoas e, depois, fazemos igual — ou pior.
Aqui vai uma pergunta retórica: o que você fez recentemente que já julgou alguém de ter feito antes?
Fora minha fotinha linda do perfil (sério, eu amei, gente!), teve também o momento em que disse que ia dar um tempo dos status do WhatsApp. Falei que tava ficando “viciandinha”, igual àqueles que postam todo dia. E, bem... eu tava mesmo.
Meu “dar um tempo” durou quatro dias.
Voltei a postar e percebi o tanto que eu peco por gostar de apontar.
Falei disso lá no meu canal Obvierdades.
E se você se identificou em alguma parte (mesmo que só no “dar um tempo” e voltar rapidinho), já sabe: estamos juntos nessa montanha-russa de incoerências que é ser humano.
Obrigada por ler!